sábado, 16 de junho de 2012

O Lugar das Coisas - Miguel Almeida


Se a arte imita a vida ou vice-versa
Na arte ou na vida
Quem imita o quê?
Talvez em síntese se possa resumir a vida na arte de saber viver. Quase assim se abre o livro.
Uma poesia feita dos dias; dos atos quotidianos, uns de rima fácil outros que teimam em escurecer a vida. Uma poesia feita dos dias e das noites, de suores e das lágrimas, dos risos e de explosões de prazer, embora serenamente, dos tesouros incontáveis. Do tudo e dos nadas que nos rodeiam.
Como uma flor, que nasce
No lixo, para crescer e florescer
Alimentada nestes espantalhamentos.
E dos dias se levantam por vezes, em explosão, excessos e loucuras, arrebatamentos de poeta, gente normal afinal, gente que percorre o tempo de nascer, viver e morrer, gente que nasce para se fazer pó da terra. Mas, pelo meio há o sol, o mar, o céu e a alegria. A poesia. A poesia que não tem dono, não tem rei nem senhor. A poesia que é liberdade, sonho e vida.
E o homem o poeta o artista o que cria;
…e nisso há poder. Há divindade, há a magia de fazer nascer, de fazer viver. De fazer poesia.
Mas, afinal de contas, triste ilusão, a vida assim cantada em verso não é mais que a alma só de um poeta; um grito ou talvez apenas uma voz suave de alguém… Alguém: um mundo no singular. Sobre quem o cientista berra: Subjetivo!!! No entanto o mundo é inteiro na alma de um só: o poeta. Daí advém o lamento de quem é julgado “difícil”… porque difícil é entender quão simples é a alma.
Fácil é afinal viver e deixar viver. Ler e deixar sentir. Pensar e deixar pensar. E sonhar, acima de tudo.
Livro de capa azul, O Lugar das Coisas é uma espécie de céu, altar em que se celebra a vida, o amor, o lado solar da existência. Nestes tempos sombrios de crise e medo, a poesia de Miguel Almeida emerge como um fio de luz brilhante, ofuscante, por sobre esta vida de autómatos que todos, mais ou menos, carregamos como um fardo. Miguel Almeida, desdizendo o poeta que finge, é o poeta que faz nascer a luz da esperança, de uma vida onde (ainda) há futuro (sonho).
Atrevo-me a afirmar que este é o livro mais pessoal de Miguel Almeida; mais pessoal e talvez mais pessoano; mas deixo essa questão para os que sabem de poesia. Eu, que não sei de poesia, achei estas rimas de extraordinária beleza; de uma musicalidade muito bem conseguida e, acima de tudo, de uma sensibilidade pessoal tocante.

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