Nunca compreendi muito bem porquê mas sempre senti um fascínio muito especial sobre o mundo antigo, especialmente no que respeita às civilizações clássicas. Por isso foi com especial curiosidade que decidi “dar uma hipótese” a Steven Saylor. Já tinha reparado nestes livros editados em Portugal pela simpática coleção 11/17 da Bertrand.
Parti para a leitura com o chamado ”pé atrás” pela aparência de literatura “light” que têm e por algumas opiniões que li nesse sentido. Mas mais uma vez se confirma: livros atacados pelos críticos literários são livros divertidos, agradáveis, que fazem as pessoas gostar de ler.
Este primeiro volume da série Roma Sub-Rosa não é, evidentemente, uma obra-prima nem pretende sê-lo. É um livro policial que tem como pano de fundo a Roma do século I a.C., mais exatamente a ditadura de Sila (ou Sula, nesta tradução), que governou imediatamente antes de Júlio César, na sequência da guerra civil que dizimou a cidade, entre os exércitos de Mário e de Sila.
Este romance, bastante bem estruturado e cheio de emoção, não deixa de cair naquele que é o maior defeito da má ficção: as coincidências, os acontecimentos fortuitos que, por mero acaso, definem o evoluir da ação. Neste caso, o nosso herói descobre a chave da investigação numa conversa casual numa taberna. Isto, obviamente, só acontece na ficção. Aliás, na má ficção. Mas este é o aspeto menos bom da obra. Tudo o resto faz deste livro uma obra que só se pode elogiar.
O herói é Gordiano, uma espécie de investigador por conta própria, ou detetive privado, em plana Roma Antiga. O que dá mais interesse à personagem é o facto de ele não ser um super-herói. Ele é humano e falha. Aliás, no final do enredo podemos ver como o desvendar dos mistérios não se deve a nenhum golpe de génio de Gordiano. Neste episódio Gordiano é contratado por um jovem advogado que é nada mais nada menos que o famoso Cícero. Curiosamente, este Cícero é bem menos prepotente e vaidoso que o Cícero da historiografia.
Mas o aspeto que mais me seduziu neste livro foi a forma como o autor reconstitui, de uma forma muito clara, visual mesmo, a Roma Antiga, não apenas ao nível dos poderosos mas principalmente das classes inferiores, de um povo que vivia à sombra do poder.
Uma nota final para a editora: o Coliseu, que aparece na capa do livro, não existia no tempo em que decorre a ação. Foi construído cerca de 140 anos mais tarde pelo Imperador Vespasiano.
6 comentários:
Ora aqui está! Um bom livro para as férias da Páscoa. Li-o no verão passado. Deixei a meio o segundo volume de contos (na sequência temporal das histórias há, depois deste, dois livros de contos). Tenho aqui ao meu lado o quarto volume (O Abraço de Némesis) que vou começar a ler nestas férias. Obrigado pela ideia Sr. Manuel. Leio o seu blog há muito tempo, grandes sugestões de leitura só podem vir de um leitor de excepção :)
Obrigado, José
este blog pretende ser apenas um registo pessoal, como se fosse um diário de leituras. Além disso, e já que foi obtendo uma certa audiência, o meu objetivo é fazer propaganda da leitura e dos livros. Não deste ou daquele livro e muito menos desta ou daquela editora, mas da leitura em geral...
Umabraço
Nesta linha também gostei de ler as obras de Simon Scarrow. Curioso é nunca ter visto no seu blog uma referência a Preston / Child, seria mesmo muito interessante ler o seu comentário a “Gabinete de Curiosidades” ou “Os Corvos”. Que diria o Sr. Manuel do Agente Pendergast? Quem “conhece” o Agente Pendergast e lê este blog deve estar a achar este meu desafio bastante divertido :)
Há tanta coisa para ler,caro José. MAs já anotei a sugestão. Obrigado!
Sou um grande fã da antiguidade também, especialmente Império Romano. Não acredito que existam livros melhores que a série o primeiro homem de Roma de Colleen McCullough mas continuo na busca. Esta série Roma Sub Rosa, por exemplo, procuro a meses e não acho em lugar algum.
Enviar um comentário