terça-feira, 9 de junho de 2015

O Pórtico da Glória - Mário Cláudio


Comentário:
Há uns anos, António Lobo Antunes afirmava qualquer coisa como isto (cito de memória): Mário Cláudio é um daqueles escritores que, tal como ele (ALA) não procura o grande público; tem um público restrito, com o qual está satisfeito no seu reduto. Eu, sinceramente, coloco muitas reticências a um autor que se posiciona desta forma no mercado. Em primeiro lugar, é preciso notar que as grandes obras de ALA venderam dezenas de milhares de livros, pelo que não encaixam nesse público restrito; em segundo lugar, quando se colocam as coisas desta forma ficamos sempre sem saber se realmente o autor poderia, caso estivesse interessado, ser um escritor de grande sucesso. No caso de Mário Cláudio parece-me que, pelas suas caraterísticas enquanto escritor, ter um público restrito não é opção…
A história de Diego, emigrante espanhol em Portugal, tem o condão de ilustrar dois grandes fenómenos da história económica contemporânea de Portugal: a industrialização tardia e o papel da cidade do Porto como verdadeira capital da inovação industrial e do investimento em Portugal. Diego traz para Portugal processos produtivos ao nível da indústria têxtil que, sendo consideradas grandes inovações técnicas, eram uma realidade há muito tempo nos países mais evoluídos da Europa (a ação decorre nos finais do século XIX e início do século XX). 
Em termos de estilo, o grande problema desta obra é a linguagem muito elaborada, por vezes perfeccionista do autor que deixa para segundo plano a narrativa; na verdade, em termos de enredo este livro é absolutamente incapaz de captar o interesse do leitor; podemos dizer, isso sim, que vale pelo rigor da escrita, pela intelectualidade do autor e pelo perfeccionismo formal.

Sinopse (em fnac.pt):
Com "O Pórtico da Glória", encerra-se um percurso de crónica e de fábula, que elegeu a maravilha e a desolação do sangue da tribo, como seu motivo de privilégio.Não é, porém, de uma pura gesta familiar que se trata, neste romance, mas da dinânima do reconhecimento e da dispersão de um punhado de seres, marcados pela singularidade, em busca da chama da peregrinação redentora.Na biografia de um certo cavalheiro da indústria, castelhano de origem, e emigrado para Portugal, fica centrada uma acção inteiramente autónoma, se bem que encontrando, em dois livros anteriores do autor, "A Quinta das Virtudes" e "Tocata Para Dois Clarins", os painéis laterais de um tríptico desdobrado.

3 comentários:

NLivros disse...

Oh Manuel, desde quando é que o que o ALA diz se escreve?
O homem anda sempre banzado, nem sabe como se chama, quanto mais o que diz...
Gosto de Mário Cláudio, embora não tenha lido muito do que escreveu, mas penso que é um autor com um público definido.
Abraço!

Fernando Évora disse...

Há uma frase que li, já lá vão muitos anos: "Existem muitas maneiras de se escrever mal; a primeira é escrever bem demais". Se não era assim, era algo muito parecido. Tenho ideia de a ter lido no antigo jornal "Sete" ou no "JL". Julgo que era de um neo-realista. Já procurei, glooglei (sem muita insistência, é verdade) e não consigo saber de quem é. Acho que ela assenta bem a Mário Cláudio. Eu, como tenho dificuldade a ler o autor, concordo contigo. Neste caso, não faço parte de um público restrito. Mas as coisas são mesmo assim: nem todos gostamos dos mesmos.

Unknown disse...

Olá Miguel e Fernando
eu só li este livro dele e portanto não posso tirar grandes conclusões. Mas não gostei desta excessiva valorização da forma. Soou-me demasiado "barroco"
Abraço a dois tão ilustres visitantes :)