quinta-feira, 14 de julho de 2016

Baú de Mimos - José Fernandes da Silva

Comentário:

Cá está mais uma obra em prosa do poeta bracarense José Fernandes da Silva e, como sempre, com uma bela capa, da autoria de Maciel Cardeira. E o interior também não desilude. Pelo contrário. Anotemos em primeiro lugar os méritos extensivos a todos os livros do autor: escrita clara, fluida, simples (no melhor sentido do termo – desprovida de artificialismos). E a musicalidade, como já referimos em comentários anteriores: José Fernandes escreve como quem compõe; as palavras soam a melodias, a poemas cantados. Como sempre, está presente o habitual toque de humor singelo e discreto, o recurso ao linguajar popular mas sem cair no “vernáculo”.
Agora a novidade: desta vez é-nos oferecido um conjunto de minicontos (Continhos, na singela expressão do autor que fornece subtítulo à obra) sob um denominador comum: a condição de ser avô e as relações entre estes e os netos. Assim sendo não poderíamos deixar de ter um livro cheio de ternura. Ou melhor, para ser mais abrangente e fiel ao espirito do autor: mais humanismo; um humanismo sincero, genuíno, comovente, como muito bem observa o escritor Fernando Pinheiro na contracapa do livro e que advém da alma grande do escritor. 
Como pano de fundo à generalidade destes pequenos contos está o mundo rural no seu mais puro bucolismo, em cenários de verde e azul a lembrar Dinis ou Aquilino, certamente dois autores que tiveram profunda influência no autor. Conhecendo, como é o nosso caso, a realidade atual das aldeias retratadas, ficamos com uma amarga sensação de paraísos perdidos; estas aldeias estão hoje invadidas e ameaçadas pelas indústrias e pelos casarios urbanos e, pior que tudo, por uma nova mentalidade - a mentalidade do lucro, do egoísmo.
Também sempre presente está a religiosidade da gente simples; não uma religiosidade beata ou interesseira mas genuína e mesmo divertida – a religião como festa da alma e do corpo. Neste quadro respira-se acima de tudo um intenso otimismo – raramente um conto acaba mal; talvez, neste retrato do passado haja também uma mensagem, ainda assim, de crença no futuro.

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