Jô Soares há muito que nos habituou a rir. Poucos como ele
nos conseguem arrancar uma bela gargalhada. Ler este livro sem gargalhar é um
desafio, eu diria insuperável
A ideia básica do livro é muito interessante: nos finais do
século XIX cruzam-se no Brasil famosas personagens reais com outras de ficção
mas já consagradas pela literatura: Sherlock Holmes e o seu inseparável Watson
deslocam-se ao Brasil, por solicitação do Imperador D. Pedro II para investigar
o estranho caso de um Stradivárius desaparecido e que o velho Rei tinha
oferecido em segredo a uma das suas amantes. O pior é que o ladrão é também um
horrível assassino de mulheres e Sherlock terá de desvendar todos os mistérios.
O enredo é enriquecido com a descrição do Rio de Janeiro daquela
época, com as aventuras diletantes de um grupo de poetas de onde se destaca o
famoso Olavo Bilac e uma célebre diva francesa, a atriz Sara Bernardt.
A eficácia do humor deste livro deve-se em grande parte ao
contraste entre o british Sharlock Holmes e a aparência devassa dos
brasileiros. No entanto não tardou muito que o detetive se rendesse à
devassidão e acabasse por se render aos encantos do samba e até da canábis. Por
outro lado, Sherlock vai-se revelando cada vez mais desastrado, caindo em situações
ridículas… aliás, o humor de Jo Soares assenta, acima de tudo, no ridículo; na
primeira fase do livro, o leitor é levado a pensar que o autor pretende
ridicularizar os brasileiros, em contraste com os elementos estrangeiros. Mas não.
Depressa se descobre que Jô Soares ridiculariza tudo e todos, desde um Rei
decrépito, poetas devassos, uma atriz famosa mas de mau génio, um Inspetor de
polícia quase demente e, acima de tudo, um Sherlock Holmes idiota e
incompetente.
Se bem que salpicado por alguns clichés, é um livro que se lê
com muito agrado. Não é uma obra prima nem pretendo sê-lo: creio que o autor
apenas pretendeu escrever uma sátira divertida. E conseguiu-o. Deixando-nos com
vontade de ver o filme com Joaquim de Almeida no papel de Sherlock Holmes e Maria
de Medeiros como Sarah Bernardt.
Uma nota especial para o final: é absolutamente
surpreendente e divertido.
3 comentários:
É bem divertido mesmo!!!
Indico O Homem que Matou Getúlio Vargas, também do Jô.
Abraços
Fefa Rodrigues
Exatamente, Fefa. Tenho-o na fila de espera :)
Acho que nunca tinha lido uma critica a nenhum livro do Jô Soares.
Tinha conhecimento dos livros mas nunca tive curiosidade em pesquisar sobre eles.Se calhar pelo velho cliché de que um apresentador não será um bom escritor...
Vou estar mais atento, depois de ter lido a sua opinião, caro Manuel.
Esta semana - por coincidência - li num blogue brasileiro que o Jô acaba de lançar um novo livro, lá.
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