Sinopse: Quando Ora
se prepara para festejar a desmobilização do filho Ofer, ele volta a juntar-se
voluntariamente ao exército. Num ímpeto supersticioso, temendo a pior notícia
que um pai ou uma mãe podem ouvir, Ora parte numa caminhada para a Galileia,
sem deixar qualquer rasto para os "notificadores". Recentemente
separada do marido, arrasta consigo um companheiro inesperado: Avram, outrora o
melhor amigo de ambos, o antigo amante, que tinha estado prisioneiro durante a
Guerra do Yom Kipur e fora torturado, e que, destruído, recusara sempre
conhecer o rapaz ou ter contacto com eles.
Durante a caminhada, Ora vai desenrolando a história da sua maternidade e
inicia Avram no drama da família humana - uma narrativa que mantém Ofer vivo,
tanto para a mãe como para o leitor. A sua história coloca lado a lado os
maiores sofrimentos da guerra e as alegrias e angústias quotidianas da educação
dos filhos: nunca se viu tão claramente o real e o surreal da vida quotidiana
em Israel, as correntes de ambivalência sobre a guerra numa família, os fardos
que caem sobre cada nova geração. Numa situação de conflito coletivo e
duradouro, como conciliar as preocupações individuais de uma mãe que, afinal,
prefere a companhia de um filho à missão patriótica? Como manter a causa
pacifista se aqueles que podem atirar contra um filho são justamente aqueles
com quem se quer fazer a paz
Comentário:
As 681 páginas desta edição talvez afastem o leitor menos
paciente. Mas a verdade é que este é um excelente livro. Está aqui, bem despida
de adereços, toda a desgraça de um povo condenado à guerra e ao ódio; um povo
que conquistou o seu espaço mas que o tem de disputar, sistematicamente, com
outros povos, eles também condenados à desgraça.
A forma como Ofer se alista voluntariamente no exército
levou a mãe, Ora, a questionar o patriotismo; o mesmo patriotismo que justificara
a criação da nação hebraica. O ódio à guerra alia-se ao próprio ódio à nação. A
expressão de Ora perante a participação dos filhos no exército é: o país “nacionalizou-me”
os filhos.
Este livro é, acima de tudo, um intenso grito anti guerra;
uma voz de protesto e de desespero perante a irracionalidade de uma história
povoada de ódio.
Mais do que fugir da guerra e da possível morte do filho, é
dos mensageiros da morte que Ora e Avram fogem. Sim, porque morte está sempre
presente, por todos os lados.
Ao longo da leitura, o leitor sente-se frequentemente
asfixiado por este ambiente sóbrio, feito de medo, feito de sangue e horror.
Para Ora, Avram, de quem se separara há muito, é uma espécie
de filho que vem substituir Orfer. Ao longo da caminhada, o autor vai
descrevendo o passado desta família despedaçada e de um curioso triângulo amoroso;
o amor aparece aqui como uma espécie de oásis neste deserto de ódio; no
entanto, nem mesmo o amor tem o aspeto de um jardim florido, antes de um jardim
coberto de espinhos; um amor que nasceu e cresceu no terror das mais
inimagináveis torturas e sacrifícios.
À medida que vai desfiando memórias, Avram descreve as
torturas que sofrera na guerra de Yom Kipur. Memórias terríveis, de uma violência
atroz, misturadas com sentimentos de culpa e arrependimento. Enfim, uma
realidade onde o passado é doloroso e o futuro negro. Sobra um presente não
menos feliz. As personagens como a nação: sem sentido, sem lógica, sem um raio
de luz a não ser os laços de amor que os prendem uns aos outros.
Como no quadro de Picasso (Guernica) a guerra preenche todos os espaços. Nada existe fora da guerra.
Aqui não há heróis. Nem bons nem maus; os próprios árabes,
inimigos ancestrais, não são vistos como “os maus da fita” mas como, também
eles, vítimas do ódio e da violência.
Em conclusão, trata-se de um livro sombrio, triste, mas
terrivelmente real. Uma estória que dói pela crueza da realidade que retrata;
uma obra de ficção que brilha pelo retrato que faz de um sofrimento coletivo
onde o pior de tudo é a falta de esperança: o final desilude como a realidade:
não há fim à vista para a estupidez dos homens.
4 comentários:
Obrigado pela dica em relação ao livro e pela sua resenha á respeito do mesmo.
Um abraço !
Olá Moisés. Eu é que agradeço a sua atenção.
Gostei da sua apresentação do problema, com inteligência, sensibilidade e cuidado. São coisas de grande fragilidade, cristais que se quebram ao mais pequeno gesto, ou grito, ou gemido.
Vivi em Israel e conheci bem a realidade. Li Grossman, mas também Amos Oz, Tammuz (fantástico "O Minotauro"), Avraham Yeoshua e todos têm uma palavra para dizer o horror da guerra a que são obrigados, para não serem aniquilados...
Abraço
o falcão
Tenho muita vontade de ler o livro.Oque at+e agora tenho gostado é Amos Oz.Logo que puder comprp
Obrigada
Mia santos
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