Sinopse:
Os cinco textos reunidos neste
livro fazem parte da série de "exercícios de memória" em que Italo
Calvino trabalhava quando morreu. Escritos entre 1962 e 1977, são heterogêneos
na forma e na intenção: podem ser descritivos, poéticos, reflexivos, críticos,
constituindo narrativas de caráter fortemente espacial e visual. Longe da
autocomplacência comum nos relatos autobiográficos, e mais do que narrar
eventos e revelar fatos da história pessoal, são quase ensaios sobre o
imaginário da infância e da adolescência do autor, ou sobre temas banais como o
lixo doméstico. Mas em Italo Calvino nada é prosaico. Nada é trivial para esse
escritor que inventou, a partir das imagens da infância em San Remo, um
"lugar geométrico do eu" e, desse lugar, pôs-se a ver o mundo.
Comentário:
Esta não é, nem nunca pretendeu
ser, uma das mais brilhantes obras de Italo Calvino; não tem nada a ver com a
fantasia e criatividade de As Cidades Invisíveis, com a graça e delicadeza de
Palomar nem muito menos com a genialidade poética de Se Numa Noite De Inverno
Um Viajante… este é apenas um exercício de escrita que apelam às memória do
autor.
Na contracapa desta edição da
Teorema diz-se que se trata de um conjunto de “exercícios de memória”; eu diria
antes que se trata de exercícios de escrita, sem qualquer ambição, sem qualquer
intuito de criar uma obra de arte literária, tão só textos que parecem ter sido
escritos para o próprio escritor, como uma espécie de devaneio literário.
No entanto, é precisamente nessa
ingenuidade literária que reside o grande mérito destes escritos.
Trata-se de cinco textos que
abordam temas absolutamente triviais. Que autor desprovido de génio teria construído
sobre estes temas algo de literariamente belo? Nenhum! Só mesmo um génio como
Calvino.
O primeiro texto fala-nos do
caminho para a feira, que o autor trilhou com pai durante a sua meninice. O segundo
debruça-se sobre os filmes que o autor viu na adolescência e juventude. O
terceiro é o único conto que nos fala de algo que foge à referida trivialidade;
descreve, de forma dramática e poética, uma batalha da segunda guerra mundial
em que o autor participou. O quarto texto, o meu preferido, fala, imagine-se,
dos sistemas de recolha de lixo doméstico em Paris! O último conto é um puro
exercício de escrita sobre a relatividade do espaço e das formas; algo que fica
a meio caminho entre o barroco da linguagem e o devaneio filosófico.
Enfim, um livro que se lê
facilmente, sem grande interesse literário mas importante para quem quiser
compreender um pouco melhor a biografia, as ideias e a carreira literária deste
grande génio da literatura europeia.
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