segunda-feira, 18 de abril de 2016

Lionel Asbo - Martin Amis


Comentário:
A leitura deste livro inicia-se de rompante, a uma velocidade narrativa avassaladora. É uma entrada de choque, cheia de humor e vertiginosa na forma como nos faz devorar páginas. 
Esta narrativa assume especial importância na forma como retrata a sociedade inglesa atual num subúrbio de Londres. Lionel é um pequeno delinquente que se orgulha de ter começado na senda do crime aos dois anos de idade. Ele tem um coração de pedra, é profundamente sádico e cultiva um gosto especial pela violência, muitas vezes gratuita; é totalmente imbecil no que toca às faculdades intelectuais, em contraste com o seu sobrinho Des, um negro que representa aqui o futuro que a Inglaterra ainda pode ter, em contraste com o desastre que Lionel representa.
A partir de certa altura, o enredo tem uma viragem radical: Lionel, o detestável arruaceiro ganha a lotaria e torna-se multimilionário. Agora, ele convive com a alta sociedade; mas aqui o autor surpreende-nos com a caracterização dessa elite que Lionel encontra no hotel onde se aloja; eles, os ricos cultivam e a ignorância e idolatram a violência da mesma forma que a ralé a que Lionel pertenciam entes; pobres ou ricos, os ingleses são ignorantes e brutos; parece ser esta a mensagem do autor. Sem dúvida uma crítica social mordaz e impiedosa.
A partir desta viragem no enredo, no entanto, o livro segue um rumo diferente, o ritmo narrativo abranda imenso e a prosa torna-se mais reflexiva e mais séria. A meu ver, isto faz com que a obra perca interesse e qualidade literária; perde-se a emoção e a vertigem narrativa da primeira parte; perde-se, em parte o humor satírico da primeira fase do livro, que se torna sério e às vezes mesmo maçador.
Fica, no entanto, a evidente qualidade da escrita do autor: clara, incisiva, rica em termos de vocabulário e, a sua principal qualidade, bem-humorada. A crítica é incisiva e mordaz; na narrativa “vemos” uma Inglaterra decadente e um povo inglês passivo perante os graves problemas sociais como a exclusão e a forte diferenciação social, a falta de cultura, o culto da violência e da pornografia – Martin Amis afirma que Lionel não consegue viver sem cadeia nem pornografia; a cadeia é vista como a sua segunda casa, de onde sai e volta a entrar com frequência; a pornografia é, para Lionel, a substituta das relações humanas, o que diz muito sobre a forma como Amis aborda este fenómeno social da autoexclusão e consequente refúgio em comportamentos marginais.
Em suma, um livro com muito interesse, bem escrito, que merece uma leitura atenta. E divertida.

Sinopse in wook.pt
Durante o expediente matinal na prisão, Lionel Asbo, um delinquente de médio porte de Diston - zona fictiva de Londres - recebe a notícia de que ganhou 139 milhões de libras na lotaria.
Último rebento de Grace, cuja prole aos 19 anos ascendia aos sete, Lionel partilha a casa com o sobrinho órfão adolescente, Desmond Pepperdine, e com dois pitt-bull, Joe e Jeff, que alimenta com uma dieta de tabasco e maus-tratos.
Uma vez posto em liberdade, a fabulosa riqueza catapulta-o naturalmente para uma vida de excessos e gastos estratosféricos que, em substância, não difere muito do quotidiano de sarilhos e arruaças da anterior e, por isso, para as primeiras páginas dos tabloides: «O Tio Li - ele desapareceu e foi para a primeira página!». Lionel continua a preferir a pornografia à companhia de uma mulher (a pornografia que, com a prisão, constitui um dos dois pilares fundamentais da vida); persiste na educação férrea dos cães (outrora uma importante ferramenta do negócio); e em não prestar qualquer tipo de auxílio financeiro a qualquer membro da família.
Enquanto Lionel desbarata a fortuna, a um débito alucinante, e espreme todos os proveitos que pensa poder retirar da fama - Des, o sobrinho, está nos nos antípodas: é um rapaz inteligente e sensato, que procura no estudo e no trabalho, e numa relação estável, um sentido para a vida.
Um romance cómico, visceral, hiperbólico - uma sátira da Inglaterra contemporânea e da obsessão contemporânea pelo dinheiro e pela celebridade.

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