Continua a saga de Aomame e Tengo, em vidas separadas que se
tocam a espaços, mas ambos vivendo num mundo paralelo, num ano de 1Q84 onde
duas luas pairam sobre as suas vidas.
A vida, estranha, encantadoramente misteriosa destes
personagens evolui neste segundo volume para dimensões mais místicas, numa
atmosfera onde a fantasia vai cada vez mais predominando sobre a realidade
concreta.
Portanto, neste volume parece que Murakami levantou mesmo os
pés do chão e encaminhou a narrativa para o mistério e a fantasia.
O simbolismo de determinadas situações torna-se cada vez
mais fascinante; por exemplo, a forma como a lua é abordada como tema
simbólico: a lua foi sempre um alvo de fascínio e uma espécie de enigma permanente
para a humanidade e assume nesta obra um papel fulcral como imagem da mudança e
do mistério.
No entanto, as implicações das mensagens de Murakami são bem
concretas; não se trata de um afastamento total do concreto mas apenas de um
derivar para a metáfora que, por vezes, torna a leitura mais trabalhosa mas ao
mesmo tempo mais bela. O trabalho de descodificação por parte do leitor faz
deste segundo volume um livro menos lúdico, menos divertido e muito mais sério,
tais são as implicações dos temas que aborda.
Por exemplo, para ir direto ao fulcro do livro: o mundo
alternativo em que vivem Tengo e Aomame parece ser uma manifestação do fracasso
dos paradigmas clássicos: nem o mundo capitalista nem o socialismo evitaram a
cinzentismo e o sofrimento em que vive a humanidade. 1Q84 assume assim a
dimensão escatológica do inevitável referente: 1984, o famoso romance de George
Orwell. AO longo da obra vai crescendo uma atmosfera de nostalgia e até mesmo
de desencanto perante o mundo; uma sensação de inevitabilidade da tristeza. É este
desencanto que preside à necessidade de criação de mundos alternativos, a tal
ponto que chega a ser impossível distinguir o real do imaginário (“-O que
significa real? Perguntou Fuka-Eri.” – pág. 241).
6 comentários:
Feliz Páscoa e boas leituras.
bjs nossos
A nostalgia e o desalento perante o mundo, é sem dúvida o sentimento que o livro transmite.
Vale a pena ler.
Eu queria comecar com o primeiro volume, mas, ontem, na Feira do Livro do Porto, disseram-me que estava esgotado. Acabei por comprar o segundo, que era Livro do Dia. Achas que faz sentido ler este, sem ter lido o primeiro?
Não faças isso, Cristina. O segundo vem esclarecer diversos mistérios que ficam "pendurados" no primeiro. Ficarias muito confusa se começasses pelo segundo.
Obrigada pela informacao. Ficará na lista de espera, até que encontre o volume 1. Tenho muito que ler, fartei-me de gastar dinheiro na Feira ;)
Acabei de o ler!
http://numadeletra.com/12276.html
Cumprimentos,
numadeletra
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