segunda-feira, 23 de abril de 2012

Polikuchka - Leon Tolstoi

Nota prévia: há uma edição recente que apresenta este livro com o título “Polikuchka, o Enforcado”. A edição que usei tem apenas o nome do personagem no título. Trata-se do número 30 da velhinha e saudosa coleção de Livros de Bolso da Europa América.
Bastava o facto de ter sido escrito por Tolstoi para que este livro merecesse ser lido com atenção. Se acrescentarmos o facto de ter sido escrito poucos meses antes do monumental Guerra e Paz, então esses motivos duplicam. Mas há mais; este livro, pequeno e simples, é um testemunho inequívoco da sensibilidade de Tolstoi para os problemas sociais. Ele ajuda-nos a compreender o próprio Guerra e Paz e permite-nos uma compreensão mais profunda da opinião de Tolstoi face à realidade socio-económica do seu tempo.
Recorde-se que a servidão tinha sido abolida pelo czar (salvo erro Alexandre III) mas essa decisão não era respeitada: os camponeses eram tratados quase como escravos, podendo mesmo ser vendidos juntamente com a terra.
As condições de vida destes servos eram, pois, miseráveis. Polikuchka é um servo que trabalha para uma grande proprietária que representa aqui aquele tipo de pessoa poderosa mas de bom coração que Tolstoi recuperaria em Guerra e Paz e que demonstra essa outra faceta da sua personalidade: uma crença genuína numa certa bondade humana, independente da condição económica da pessoa. Mas, mau grado o bom coração da Senhora, Polikuchka é um homem infeliz. Ele é vítima desse cancro da sociedade russa que é e sempre foi o vodka. Entre os camponeses, o álcool é uma fuga à servidão, à desumanidade do sistema social; assim, o pobre que não sucumbe perante a injustiça, acaba por sucumbir perante o álcool.
Mas, num determinado momento da sua vida, Polikuchka redime-se. Ele torna-se um homem honesto e trabalhador. No entanto, algo o trairá: o destino. Como se tivesse de haver sempre uma condenação: se não fosse o álcool era a guerra (para onde os camponeses eram recrutados), se não fosse a guerra era a fome, se não fosse nada disto era a fatalidade do destino.
E Polikuchka morre na desgraça. Como qualquer servo.
  

6 comentários:

Au chocolat disse...

Acho sempre muito interessantes os livros que lê. O ano passado na Feira do Livro comprei os 4 volumes do Guerra e Paz, mas ainda não ganhei fôlego suficiente para lhe pegar. Talvez esteja para breve :)

Unknown disse...

Au chocolat:
mesmo que leias um volume por mês! É uma obra magnífica e, acredita, uma leitura que prende a atenção. Não tem nada de maçador! Coragem,. porque vale a pena!

Miguel Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Nunes disse...

São vários os livros que li de Tolstoi mas tenho ainda em falta o magistral Guerra e Paz, que, tal como a Au Chocolat, também possuo mas estou ainda em fase de preparação para lê-lo =)

Se tiver uns minutinhos Manuel:

oqueoslivrosmedizem.blogspot.com

susemad disse...

Achei esta pequena obra genial em toda a sua essência, Manuel.
A minha edição tem o segundo título. E não fazia ideia que este tinha sito escrito antes do "Guerra e Paz" (sim sou mais uma que ainda anda a ganhar coragem).
Boas leituras!

Margarida disse...

Manuel acabei de ler esta pequena obra hoje e gostei muito. Do Guerra e Paz ainda apenas li o 1º. volume , em inglês mas tenciono ler os outros em breve. Obrigada pelo seu post.