Nota prévia: há uma edição recente que apresenta este livro
com o título “Polikuchka, o Enforcado”. A edição que usei tem apenas o nome do
personagem no título. Trata-se do número 30 da velhinha e saudosa coleção de
Livros de Bolso da Europa América.
Bastava o facto de ter sido escrito por Tolstoi para que
este livro merecesse ser lido com atenção. Se acrescentarmos o facto de ter
sido escrito poucos meses antes do monumental Guerra e Paz, então esses motivos
duplicam. Mas há mais; este livro, pequeno e simples, é um testemunho
inequívoco da sensibilidade de Tolstoi para os problemas sociais. Ele ajuda-nos
a compreender o próprio Guerra e Paz e permite-nos uma compreensão mais
profunda da opinião de Tolstoi face à realidade socio-económica do seu tempo.
Recorde-se que a servidão tinha sido abolida pelo czar
(salvo erro Alexandre III) mas essa decisão não era respeitada: os camponeses
eram tratados quase como escravos, podendo mesmo ser vendidos juntamente com a
terra.
As condições de vida destes servos eram, pois, miseráveis. Polikuchka
é um servo que trabalha para uma grande proprietária que representa aqui aquele
tipo de pessoa poderosa mas de bom coração que Tolstoi recuperaria em Guerra e
Paz e que demonstra essa outra faceta da sua personalidade: uma crença genuína
numa certa bondade humana, independente da condição económica da pessoa. Mas,
mau grado o bom coração da Senhora, Polikuchka é um homem infeliz. Ele é vítima
desse cancro da sociedade russa que é e sempre foi o vodka. Entre os
camponeses, o álcool é uma fuga à servidão, à desumanidade do sistema social;
assim, o pobre que não sucumbe perante a injustiça, acaba por sucumbir perante
o álcool.
Mas, num determinado momento da sua vida, Polikuchka redime-se.
Ele torna-se um homem honesto e trabalhador. No entanto, algo o trairá: o
destino. Como se tivesse de haver sempre uma condenação: se não fosse o álcool
era a guerra (para onde os camponeses eram recrutados), se não fosse a guerra
era a fome, se não fosse nada disto era a fatalidade do destino.
E Polikuchka morre na desgraça. Como qualquer servo.
6 comentários:
Acho sempre muito interessantes os livros que lê. O ano passado na Feira do Livro comprei os 4 volumes do Guerra e Paz, mas ainda não ganhei fôlego suficiente para lhe pegar. Talvez esteja para breve :)
Au chocolat:
mesmo que leias um volume por mês! É uma obra magnífica e, acredita, uma leitura que prende a atenção. Não tem nada de maçador! Coragem,. porque vale a pena!
São vários os livros que li de Tolstoi mas tenho ainda em falta o magistral Guerra e Paz, que, tal como a Au Chocolat, também possuo mas estou ainda em fase de preparação para lê-lo =)
Se tiver uns minutinhos Manuel:
oqueoslivrosmedizem.blogspot.com
Achei esta pequena obra genial em toda a sua essência, Manuel.
A minha edição tem o segundo título. E não fazia ideia que este tinha sito escrito antes do "Guerra e Paz" (sim sou mais uma que ainda anda a ganhar coragem).
Boas leituras!
Manuel acabei de ler esta pequena obra hoje e gostei muito. Do Guerra e Paz ainda apenas li o 1º. volume , em inglês mas tenciono ler os outros em breve. Obrigada pelo seu post.
Enviar um comentário