Ken Follett é um chato no bom sentido. Basta pegar num livro dele, de preferência um destes com largas centenas de páginas e temos noites mal dormidas asseguradas. Não que nos provoque pesadelos; pode até acontecer mas não é a isso que me refiro; é que livros como este não se largam facilmente; eles resistem colados à nossa mão enquanto o relógio avança na noite e a mesa de cabeceira ali, à espera que o livro vá ter com ela. Mas quando finalmente o livro regressa à mesinha, já leva o marcador de páginas bem lá para a frente e já uns raios de luz espreitam pela persiana mal fechada.
É assim Follett, empolgante!
Neste livro, que até nem tem um ritmo narrativo muito grande, o mistério não abandona o leitor do princípio ao fim; e cada vez mais me convenço que um dos maiores méritos deste génio literário é o fato de nunca ter prosa em demasia; a sua economia de escrita é excelente, fazendo com que tudo o que lá está nos pareça essencial e não careça de grande esforço de leitura.
O enredo deste livro passa-se, ao contrário do habitual em Follett, nos EUA. E atrevo-me a dizer que Follett não deve ter feito muitos amigos em terras do Tio Sam. É que muitos dos aspetos aqui desenvolvidos surgem numa perspetiva bastante crítica em relação aos ”States”: um sistema universitário corroído pelos interesses económicos, um sistema de saúde minado pela corrupção e pelo capitalismo selvagem; um sistema prisional muito falível; uma polícia muito pouco simpática e muitas vezes violenta e avessa a regras; uma comunicação social ávida de escândalos e uma sociedade cheia de preconceitos.
Quanto à temática, aparentemente ela centra-se no atual tema da clonagem mas na verdade radica em algo mais profundo: na ameaça de controlo da genética pelos poderes económico e político, que podem constituir uma grave ameaça ao futuro de uma humanidade livre.
Finalmente, uma curiosidade: a certa altura do livro o leitor dá conta, surpreso, de que a chave do enigma está no título! Mas depressa se desengana; a questão está muito para lá de um terceiro gémeo.
Enfim, mais um livro excelente deste galês que não deixa de me surpreender. Não que estes policiais do início da sua carreira sejam geniais; não são pérolas literárias, mas são terrivelmente capazes de nos entreter e divertir. E que melhor podemos esperar dos livros?
Sinopse (in www.wook.pt)
A cientista Jeannie Ferrami, especialista em gémeos e nos componentes genéticos da agressão, faz uma descoberta espantosa. Recorrendo a um banco de dados do FBI, descobre dois homens que parecem ser gémeos verdadeiros: Steve, estudante de direito, e Dennis, assassino condenado. No entanto, nasceram em dias diferentes, de mães distintas, em hospitais separados por centenas de quilómetros.
Que segredo terá ela desvendado? Poderá confiar no seu chefe e mentor, ou terá de pôr a sua vida nas mãos de Steve Logan, o gémeo por quem se apaixona, apesar de ele estar envolto em intriga e suspeita? Uma coisa é certa: não há nada que faça certas pessoas deixar de conspirar na sombra…
6 comentários:
Tenho lido muitos livros assim... que não podem ir para a mesinha de cabeceira ao fim de meia dúzia de páginas. E depois de manhã é que são elas!!! : ))
É realmente um autor chato porque nos obriga a ficar presos aos seus livros isso aconteceu-me com os pilares da terra apesar de ser dois volumes quando acabei fiquei com a sensação de que cria mais e mais.
Um abraço e um bom fim de semana.
Olá Manuel!
É muito bom, sim.
Adorei esse livro em particular, e a tua análise, como sempre ;)
Beijinhos e boas leituras.
Olá Manuel,
Pois tenho tido leituras que depois não me deixam dormir tal como esta te fez a ti, é bom sinal.
Ken Follett nunca li nada mas tenho muito dele aqui nas estantes mas ainda não senti o click e sem isso não vale a pena pegar.
Boas leituras e beijinhos.
Tenho este livro na estante por ler. Estou muito curiosa,pois nunca li nada do autor. Mas nos próximos tempos vou estar ocupada com a Maratona do Gelo e Fogo ^_^
Ola!
Tenho este livro na minha lista de leituras pendentes.
Gostei muito da tua resenha.
Nos lemos!
Beijinhos.
Enviar um comentário