quinta-feira, 16 de abril de 2015

Um Gladiador só Morre Uma Vez - Steven Saylor

Comentário:
Cá estou eu, de volta ao mestre da ficção, histórica, no que a Roma Antiga diz respeito.
Este é o segundo dos livros da coleção Roma Sub-Rosa em formato de contos. Começando pelo lado menos positivo, devo dizer que este conjunto de contos me pareceu menos rico e interessante que os do outro volume, A Casa das Vestais. Estes contos pareceram-me um pouco mais previsíveis, com enredos e desfechos por vezes um pouco forçados.
Mesmo assim, prevalece o enorme taleto do autor para a narrativa de ficção histórica. Em cada um dos contos há um aspeto da realidade romana antiga a ser desenvolvido. Todas as narrativas se situam, tal como acontece com todos os sete livros da coleção, na fase final da república romana, mais exatamente desde a ditadura de Sila à fase dos triunviratos que precedem a inauguração do sistema imperial por Octávio Augusto.
Os contos do presente volume abordam temáticas por vezes muito interessantes sobre o quotidiano de Roma antiga: em A Mulher do Cônsul, uma interessante história sobre o consulado de Décimo Bruto, Saylor dá-nos uma novidade incrível: embora os jornais diários tenham sido inventados na época contemporânea (salvo erro século XIX), em Roma ano séc. I a. C. já existia um diário: as Actas do Dia era uma espécie de jornal mural que se afixava diariamente em Roma e onde não faltavam as coscuvilhices, tão do agrado dos romanos e as não menos apetecíveis notícias desportivas. 
Um dos aspetos mais interessantes é a abordagem dessas grandes ameaças à Republica Romana e que, em parte, explicam o advento do sistema imperial: a ameaça de Mitridates do Ponto no Oriente do Império e o “reino” de Sertório na nossa Península Ibérica. Ambos ambicionavam derrotar Roma mas o assassínio de Sertório e a derrota de Mitridates às mãos de Lúculo e Pompeu, permitiram a sobrevivência desse grandioso e brilhante império que dois mil anos depois ainda encanta a nossa imaginação.
Os contos mais interessantes deste volume são, a meu ver, aquele que dá título ao livro e o último, As Cerejas de Lúculo. Em Um Gladiador só Morre Uma Vez dá-se a conhecer a incrível vida dos gladiadores, alguns deles lutadores profissionais e a maioria escravos obrigados a lutar até à morte. Este prazer que os romanos encontravam na violência é o aspeto mais sórdido e mesmo bárbaro deste povo brilhante. Mas nem todos apreciavam as lutas; um dos seus opositores é o brilhante Cícero que mais uma vez, neste livro, é retratado de uma forma muito mais positiva do que o fez a historiografia: menos austero, menos vaidoso e até com algum sentido de humor. 
O conto As Cerejas de Lúculo é uma interessante narrativa sobre esse magnífico fruto que os romanos foram buscar ao Ponto (reino oriental situado sensivelmente no norte da atual Turquia) e que depressa se espalhou pela Europa. Neste conto deparamos com duas interessantes e importantes figuras históricas da república romana: Lúculo, que iniciou a pacificação do Médio Oriente e se tornou cônsul em Roma e o austero Catão. Trata-se de uma estória notável com interessantes implicações filosóficas a propósito da natureza do conhecimento humano, um tema que como se sabe muito preocupava os intelectuais da época.
Sinopse (IN WWW.WOOK.PT)
Estas novas aventuras de Gordiano, o Descobridor, cobrem a fase inicial da brilhante carreira do detective em plena Roma antiga, num momento em que a mulher, Bethesda, era ainda sua escrava, e o filho, Eco, um rapazinho mudo, oferecendo aos seus fãs a possibilidade de assistir ao crescimento importantes relações pessoais e políticas, incluindo a de Gordiano com o legendário orador Cícero.

11 comentários:

José Passarinho disse...

Vejo que o Sr. Manuel continua a ler o Saylor. Neste não tinha eu chegado ao último conto. Vou ler. Estou agora a ler um livro de Margaret Atwood "Criminosa ou Inocente". Estava com medo de ler esta autora. Parecia-me que ia desistir cedo, mas não, está a tornar-se bem interessante.

Catarina disse...

Não creio ter lido alguma vez um livro deste autor.

Margaret Atwood é canadiana! Uma escritora de grande sucesso.

Unknown disse...

José, esse "Sr.", por mim, está aí um pouco a mais.
Margaret Atwood é uma das escritoras que está na minha lista de espera. Mas eu agora "estacionei" um pouco em Follett e Saylor.
E tantos clássicos que ainda tenho de ler... a vida é pequena para tantos livros...

José Passarinho disse...

É sempre bom encontrar livros que nos prendam (e que não sejam de contabilidade). É mesmo bom passar um serão a ler até mais tarde ou fazer umas pausas no trabalho/escola para chegar ao fim do capítulo. Lembro-me de uns livros que li, há uns vinte anos, de uma autora chamada Kate Charles, ia chumbando num teste... hoje quem corre os olhos pela minha estante e me pergunta - quem é a Kate Charles? leva quase sempre com a resposta "é uma enóloga americana que escreve sobre vinhos russos"... não me apetece emprestar alguns dos livros de que mais gosto!
Tenho alguns livros de Margaret Atwood, mas foi este de que falei, que me chegou às mãos nuns saldos dos Livros do Brasil, que me chamou a atenção e que agora parei de ler por momentos... bem vou continuar, e não, não o empresto a ninguém! E também não empresto o volume de contos do Miguel Torga! Quem por cá passar e quiser livros, pois que leve os últimos do Rodrigues dos Santos, que estão novos, ou a biografia do Tolstoi, que tem encadernação a couro e letras douradas. Ou mesmo o dicionário de português da Texto Editora que não vale mesmo nada (e que eu afasto sempre do Houaiss, por medo de possível contaminação). E o Pé de Laranja Lima, e a Crónica de Uma Namorada... e a Dona Flor... bem vou ler. Manuel a vida é pequena mas vale sempre a pena!

Unknown disse...

Claro que vale a pena,José.
Adorei o sentido de humor do seu texto :)
Eu também fiquei sem alguns livros por emprestar a quem não merecia. A maioria das pessoas revela um egocentrismo incrível. Mas também não me importo de emprestar alguns:) Tenho para aí umas coisas que dispenso bem :)

José Passarinho disse...

E a nova edição de Os Noivos da Palinas Editora? Estive agora a folhear e a admirar a capa. Diz que a tradução é igualmente de requinte... E o meu, velhinho, da editorial Inquérito, que lhe faço? Empresto-o?

Jardim de Mil Histórias disse...

Olá Manuel,

Não conhecia esta colecção. Parece muito interessante.
Também quero muito ler Margaret Atwood para ler. Estou muito curiosa.

Boas leituras.

Unknown disse...

Palinas ou Paulinas, José? :)
Eu nunca ouvi falar do livro mas parece-me que as duas edições são "emprestáveis", não? :)

Unknown disse...

ops, estive pesquisar e afinal é um clássico da literatura italiana. É o que eu digo, há sempre mais um clássico escondido...
empresta só o das Paulinas :(

José Passarinho disse...

I promessi sposi è un celebre romanzo storico di Alessandro Manzoni, ritenuto il più famoso e il più letto tra quelli scritti in lingua italiana. Em Portogallo é pouco lido. Muito por culpa dos editores. Apenas conheço, até agora, a edição da Inquérito, mas haverá outras. A Paulinas Editora veio agora corrigir a questão, tendo em conta a opinião do Papa Francisco sobre a obra. É, no entanto, um livro belo sobre um tipo malvado que não aprecia queijo. Em http://thegreatestbooks.org está no lugar 475, o que é bem injusto. Atente ao site que indico Manuel.

Nilda Maia disse...

Olá, adorei o seu blog. Gostei muito dos seus textos, também do conteúdo. Que bom. Estarei sempre por perto vendo as novidades.
Venha conhecer o meu Blog também. Tenho certeza que vai gostar http://www.oslivrosdaminhabiblioteca.blogspot.com.br/
Um grande abraço. NILDA