segunda-feira, 6 de julho de 2015

Ficou tanto por dizer - Fernando Guerreiro


As grandes surpresas às vezes chegam em embrulhos pequenos. Um amigo disse-me que me enviaria pelo correio um livro de que gostara muito. Aguardei, sempre com receio porque a caixa de correio é pequena e o carteiro nem sempre consegue encaixar lá um livro. Mas passados uns dias qual não foi a minha surpresa quando dou com um pequeníssimo volume de papel pardo atado com uma fina corda, em estilo bem artesanal! 
Ficou Tanto Por Dizer é um livro um pouco maior do que a palma de uma mão, contento pouco mais de uma centena de microcontos, do escritor Fernando Guerreiro. 
Obviamente não é uma obra de génio, nem pretende sê-lo. Mas é uma pequena obra cheia de criatividade, de engenho, de algum humor e muita sensibilidade. Cada microconto não ocupa mais do que uma micropágina. Por vezes são apenas duas ou três linhas, mas encerram sempre algo de significativo que o autor nos quer transmitir.
Por exemplo:
…uma sensibilidade ingénua mas com o seu quê de romantismo de praia deserta:
“Foi até à praia e afogou 
as mágoas no mar.
depois, abriu os braços,
abraçou   o sol e nunca
mais os seus dias
foram pintados de negro.!”
…um discreto e encantador romantismo no período de digestão:
“Depois de jantar, ficaram
 sentados a frente a frente
 sem dizerem uma única 
palavra. Ele escutou 
atentamente o silêncio 
e nesse momento 
entendeu, finalmente, 
tudo o que ela tinha para 
lhe dizer.”
…um humor fino e colegial:
Visão
“Sempre foi um visionário. 
Já na escola, quando 
os professores faziam 
a chamada, enquanto 
os colegas diziam 
presente, ele gritava 
futuro.”
…um cheirinho a lição de aritmética com um toque de comédia rural:
Três
“Havia um que a abafava.
Outro havia com o qual 
desabafava. Passado 
pouco tempo, com 
o segundo ela arfava
e ao primeiro mandou-o 
à fava.”
… e até um guia (ou manual de instruções) se o leitor for candidato a poeta. Ou bombeiro. Ou técnico do INEM:
Aproveitamento
“Ela era um pedaço de mau
caminho e ele era um
condutor inexperiente. 
O acidente não foi nada
de inesperado. No meio
dos destroços ainda
se aproveitaram algumas
peças para os corações
que vieram a seguir.”

Em suma, um livro descontraído, que pode ser divertido se assim o entendermos e pode ser sério se nele quisermos encontrar umas mensagenzinhas sérias e suficientemente profundas, que acompanharão bem uma estafante sessão de sala de espera do dentista.

Tudo sobre o livro, incluindo contactos e encomendas em  www.microcontos.pt

11 comentários:

José Passarinho disse...

Pergunto-me porque será que ninguém teve a ideia de editar microlivros para oferta nos transportes ou nos consultórios. Podiam financiar a edição com publicidade, os livros seriam coleccionáveis... E podiam usar obras de autores em início de carreira ou consagrados já livres de direitos editados em vários tomos... E até amostras de livros actuais... Haverá para aí algum empreendedor... Agora que cada vez mais gente está a ler...

Unknown disse...

José, antigamente havia uma coisa que podia ajudar. Como é que se chamava??? Tenho o nome debaixo da lingua... magistério... minério... não... já sei... Ministério da Educação e da Cultura! Agora parece que não há disso, mas fica a ideia para o futuro...

Agora a sério, a tua ideia é excelente, mas este país está a voltar àquele passado salazarento em que convinha ter um povo ignorante

José Passarinho disse...

Vou encomendar. Ora bem! Parte do dinheiro vai para a Acreditar. Mais uma razão para comprar!
Ao Manuel e ao Fernando Guerreiro recomendo "A Senhora dos Açores" de Romana Petri. Vale a pena procurar!

Unknown disse...

esse já está na minha lista "para ler" há uns tempos.
Só que o diabo da lista já vai em mais de 50 livros :)

José Passarinho disse...

Manuel, tudo é relativo...
http://stars.chromeexperiments.com

Unknown disse...

:):):)

Fernando Guerreiro disse...

Obrigado pelas tuas palavras e o cuidado com que leste o livro, Manuel. Um abraço de agradecimento. Até breve.
Quem for à loja e colocar o código "anisha", tem direito a 10% de desconto. Só para leitores do blogue. Aqui: http://bit.ly/lojamicrocontos

Abraços,
Fernando

Fernando Évora disse...

Bom... vou deixar-me levar pelo conselho do José Passarinho e ler a Romana Petri, aproveitando a minha viagem aos Açores deste Verão (far-me-ei ainda acompanhar pelo Dias de Melo que descobri o ano passado e de quem passei a ser fã - Ó Manuel põe lá aí o "Pedras Negras" em 51 da tua lista). Depois direi qualquer coisa.

Unknown disse...

Já me falaram do Pedras Negras, Fernando... mais um na lista.:)
Fernando Guerreiro, muito,muito obrigado.
Um grande abraço

José Passarinho disse...

É pá, o livro de Dias de Melo está esgotado na fnac e no wook...

Fernando Évora disse...

Já os tenho, mas devia haver ma reedição...