Que Luís Sepúlveda é um homem de causas já todos nós
sabemos. Nem é preciso ter lido qualquer livro dele; Sepúlveda é reconhecido
internacionalmente como um dos mais activos e acérrimos defensores das causas
ecológicas. A defesa do planeta face à inclemente devastação causada pelos
avanços do capitalismo selvagem em que vivemos, é a sua causa de eleição. Mas o
que cada livro dele revela sempre com enfase cada vez mais vincado é a sua
tremenda sensibilidade humana. Pessoalmente sinto-me sempre surpreendido em
cada leitura que faço deste autor, pela sua capacidade quase única de descrever
e apontar o dedo a todas as injustiças de que são vítimas os seres humanos mais
desprotegidos.
Neste livro, publicado pela primeira vez em 2000 e,
estranhamente, só agora publicado em Portugal, Luís Sepúlveda dá-nos conta de
uma espécie de diário de viagens. Um pouco por todo o mundo, o autor testemunha
diversas situações de injustiça mas relata-nos também episódios de beleza
irresistível; na verdade, sendo um homem de causas, ele não se limita a relatar
situações negativas. Por outras palavras, não é um livro de lamentos; por vezes
presenteia-nos com descrições encantadoras como as das paisagens da Lapónia ou
da Patagónia.
Um episódio que revela bem a sensibilidade humana deste
genial escritor chileno é um episódio que se refere ao famoso mármore de
Carrara. Este é considerado o melhor mármore do mundo e das suas pedreiras
foram extraídos os blocos que originaram as obras primas de Miguel Ângelo, como
o Moisés ou David. No entanto, nessas pedreiras de mármore brilhante
“a região de Carrara cobra entre
seis a oito vidas de cavatori por
ano. Durante o funeral, o único artista presente disse que aqueles dois cavatori eram mártires que tinham
morrido pela arte. Mas outro daqueles trabalhadores cuspiu o charuto barato que
lhe pendia dos lábios e precisou: não, morreram porque falta segurança, morreram
por um salário de merda.”
8 comentários:
Também sou fã de Luís Sepúlveda. Curiosamente, ao fazer a divulgação que faz da Patagónia, o escritor contribui, e de que maneira, para uma corrida de turistas para essa região, iniciando a descaracterização da zona. No mínimo polémico, não é?
Abraço
realmente... isso dá que pensar.
Mas o turismo não tem de ser necessariamente mau; tem é de ser controlado e se calhar o problema é o tal "turismo selvagem". Ou interesseiro, o que é pior ainda.
Por exemplo, na zona do Amazonas o tráfico de animais tem sido um flagelo terrível. Mas tentar impedir as visitas turísticas será razoável?
Esse tenho para ler, mas ainda não li, embora seja igualmente fã de Sepúlveda. Mas a minha edição (3ª) já é de 2001... ;)
Teté, tens uma edição portuguesa de 2001?
Já vi que me enganei. Este exemplar que tenho é da Porto Editora 2011 mas há uma edição muito anterior da Asa
Gosto imenso desta obra de Sepúlveda, muito embora não seja o meu preferido.
A minha edição também é antiga, deve ser igual à da Teté. É das edições ASA.
Olá tonsdeazul
eu também continuo a pensar que o melhor dele é o primeiro que li: O Velho que Lia Romances de Amor.
Este post publicado em 2012 e em em 2019 (espero que alguem me consiga ajudar). Estou prestes numa apresentação de Português e não sei como irei relacionar esta obra com alguma pintura ou algum filme.Se alguem me conseguir ajudar agradecia.
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