Levantado do Chão de José Saramago e Vagão J de Vergílio
Ferreira foram livros que me marcaram. Porquê? Pela sua singeleza, pelo encanto
que é recuar às origens de um génio; da mesma forma, a leitura deste livro de
Cristina Torrão, que marca o arranque da sua carreira literária, é uma
experiência interessante. Nele a autora revela já a sua qualidade literária
enquanto grande contadora de histórias e, ao mesmo tempo, uma certa ingenuidade
na abordagem dos comportamentos. Mais do que nos livros posteriores é clara a
visão positiva da alma humana, a crença inabalável na bondade rousseauniana do
ser humano.
O cruzado Konrad participa no cerco e conquista de Lisboa ao
serviço do nosso pai-rei Afonso. Konrad vem das profundezas da Germânia para
ganhar a salvação da alma e a riqueza da bolsa (mais esta que aquela,
obviamente) lutando contra os mouros. Do almejado saque faria fortuna mas mais
importante que isso: de entre os despojos da conquista ergueu-se Aischa, a
moura “encantada”, a beleza em pessoa que enfeitiçou o Cruzado. Por amor Konrad
se fixou em Portugal por amor se dispôs mesmo a renegar a sua fé. E a
misteriosa cruz de esmeraldas que Aischa guardava seria também a guardiã dessa
bela estória de amor.
Emana deste pequeno romance o perfume de um humanismo notável.
Já neste primeiro livro, Cristina Torrão faz a apologia de uma convivência
pacífica entre cristãos, mouros e também judeus, em torno de uma espécie de
panteísmo, como se o Deus de todos os povos fosse um e único. Neste contexto,
quebram-se alguns dogmas: Samuel é um judeu altruísta; Konrad é um católico
tolerante e Rashid é um muçulmano sem preconceitos: as antíteses do vulgar para
a época.
Este sonho de convivência pacífica entre povos e culturas
revela uma sensibilidade e um humanismo que a escritora deixa bem claros em
todos os seus livros.
Um aspecto curioso desta obra é o seu carácter didáctico:
que proveitoso seria se este livro fosse lido por todos os estudantes de
história. A linguagem utilizada torna-o acessível a qualquer grau do
ensino e a beleza com que a ficção
adorna a verdade histórica torna este livro muito atractivo e de fácil leitura.
Sem a profundidade na análise psicológica de Afonso
Henriques e de D. Dinis, este livro é precioso para conhecermos as principais facetas desta autora que se destaca claramente no romance histórico português.
3 comentários:
Boas sôr Manuel!
Interessante opinião de um livro que, confesso, já me senti tentado a adquirir.
Eu estou tentadíssima a adquiri-lo:). Aliás, esta escritora portuguesa está na minha lista há algum tempo.
Tenho os 3 primeiros livros da autora e na 5F vou passar a ter o 4º livro dela e conhecê-la! :)
Adoro os livros e a autora...Recomendo totalmente! E considero que merecia ter mais destaque no mundo literário...quiça até no cinematografico! :)
Até ao momento, este é o meu favorito...
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