domingo, 19 de abril de 2015

Gunter Grass partiu e nós continuamos a tocar tambor


Na semana que hoje termina faleceu um grande escritor; um génio chamado Gunter Grass.
Infelizmente, só li um livro dele, pelo que não sou a pessoa ideal para fazer grandes considerações em torno da sua obra. Mesmo assim, atrevo-me a dizer algo que me parece vir bem a propósito.
Li O Tambor (O Tambor de Lata no Brasil) há alguns anos. Se bem me recordo, o livro conta a estória de um jovem de nome Óscar, em plena segunda guerra mundial. A mensagem que me ficou do livro, ainda que vista à distância de vários anos, foi esta: Hitler tentava arrasar a Europa, chacinava os judeus, ambicionava dominar o mundo, causava uma guerra que resultou em vinte e tal milhões de mortos e, enquanto isso, Óscar tocava tambor. E parecia que toda a Alemanha tocava tambor enquanto Hitler e seus pares cometiam as maiores atrocidades.
A ideia que me fica hoje é que, no ano em que Gunter Grass nos deixou, muitos de nós continuam a tocar tambor…
É por isso que a Literatura é uma grande arte: há sempre atualidade nos grandes mestres, mesmo depois de eles nos deixarem…

13 comentários:

Catarina disse...

Não me recordo de ter lido um livro dele. Foi precisamente este livro que requisitei na biblioteca esta semana.

Carlos Faria disse...

Li apenas a "A ratazana" fiquei de tal modo deprimido que nunca mais o tentei ler.

Teresa Diniz disse...

Esta semana também dei por mim a folhear um livro dele, pensando se havia ou não de o comprar, e ler. Mas vou confessar que embirro um bocadinho com o senhor. Para quem pertenceu às SS, tecer considerações sobre o Holocausto e o Estado de Israel parece, no mínimo, de mau gosto.

Maria Cristina disse...

Olá, sou de Belo Horizonte, Brasil, e por acaso, buscando opiniões sobre livros, encontrei seu blog. Adore! Parabéns e obrigada, vou acompanhá-lo. Abraço

C. disse...

Casos como o de Grass relembram-me sempre um professor de história que tive que dizia qualquer coisa como-é necessário olhar para cada período, não à luz da actualidade, do que hoje, séc XXI,conhecemos mas com a informação, o contexto da sua época.

Recomendo a leitura de "Descascando a cebola"

Unknown disse...

Catarina e Carlos,vocês iam gostar de ler este livro.
Teresa, ele foi praticamente obrigado a colaborar com o sistema; o contexto, como diz a C. explica muita coisa; aliás, depois disso ele teve um percurso notável na luta pela liberdade e pelos direitos humanos.
Obrigado, Cristina.
C., eu ainda não li Descascando a Cebola mas concordo com o que dizes.

José Passarinho disse...

Não, na minha estante não há livros deste autor. Tenho, do Pérez-Reverte o A Pele do Tambor. E tenho também um livrinho do Tambor, o personagem da Disney (do filme do Bambi).
Depois que li os comentários sobre a ligação às SS, optei por não o ler.
Também ainda não li Coetzee.
Um comentário ainda mais paralelo, ao lado de A Pele do Tambor, tenho o magnifico As Sandálias do Pescador. Alguém ainda se lembra, ou lê, Morris West?

Unknown disse...

José, Perez-Reverte é um ídolo, para mim.
Mas essa estória do Gunter Grass ser operacional nazi parece-me um pouco mal contada; mas como não li nada sobre isso, nem mesmo Descascando a Cebola, não vou pronunciar-me... O que te digo é que Grass tem um passado marcadamente socialista e de militante social-democrata de esquerda e este O Tambor é uma crítica muito inteligente ao nazismo e ao colaboracionismo.
De Morris West li há muitos anos Filhos da Trevas e quanto a Sandálias do Pescador apenas vi o filme e adorei. Que bela estória!

C. disse...

Grass foi recrutado quando era adolescente. Apesar da referência não ser directa, tudo indica que terá sido "camarada de armas" de Ratzinger. O seu percurso posterior foi o de um homem de esquerda, e parece-me que deveria ser esse a ser tido em conta, não pelo "ser de esquerda" mas por coincidir com o período em que as capacidades intelectuais, sociais de qualquer indivíduo estão desenvolvidas

Caramba. Não ler Grass porque na sua juventude (e pensemos na Alemanha dessa época, pensemos na educação a que esteve exposta toda uma geração) esteve associado à juv hitleriana, às SS, olvidando tudo o resto parece-me tão disparatado como não ler Saramago com o argumento deste ser comunista

Que não se leia porque não há tempo para ler tudo, que o género não nos agrade...

José Passarinho disse...

Estive agora a rever o filme que o Manuel indica. Efectivamente todos temos que conviver com o erro, e até que o compreender, mas isso não significa que tenhamos que o aceitar. Gostei da passagem em que ele conta que certa vez, na Sibéria, lutou com um guarda por um pão que precisou dar a um aleijado, então alguém lhe pergunta - e se o tivesses assassinado durante a luta? Respondeu apenas "não sei o que seria de mim" essa nunca fora a sua intenção, mas podia ter acontecido. Quando abrimos uma porta temos aceitar que o fizemos, ter consciência do que fizemos.

susemad disse...

Não li este. Do autor só li "A Caixa".
E tenho na mesa de cabeceira "O Gato e o Rato", que é a continuação do teu "Tambor". ;)
Seria bom que se tocasse tambor, mas para acordar e agir.
Boas leituras!

Unknown disse...

C.
A minha opinião sobre o assunto é exatamente essa. Não é o meu caso, mas conheço muita gente da minha geração e da geração anterior que foi obrigada a pertencer à< mocidade portuguesa. Seria terrivelmente injusto castigá-los por terem sido, eles próprios, vítimas do fascismo.

José, não sei, sinceramente, o que ele Gunter Grass terá feito enquanto colaboracionista, por isso não me posso pronunciar. Mas custa-ma aceitar a ultima frase da tua mensagem; teremos de acarretar sempre com o peso de um erro, ainda por cima, condicionado por um contexto de terror?

Sim, tonsdeazul; era caso para tocar "a rebate". E continuamos a ter essa necessidade. Há dias li uma notícia cujo título era mais ou menos este: setecentos emigrantes ilegais morrem em naufrágio no Mediterrâneo. Eu pensava que eram seres humanos.
E todos os erros da humanidade radicam na desumanização. Toquemos tambor, portanto, mas "a rebate"

teresa dias disse...

Olá Manuel,
Ainda não li Gunter Grass. Grande falha!
Depois de te ler a ti, decidi que "O Tambor" será a minha primeira escolha.
Abraço.